16 de março de 2014

SEXO NO CASAMENTO

Comentando o “Se eu fosse você'' A questão da semana é o caso da internauta que
ama o marido, mas não sente mais vontade de fazer sexo com ele. Isso não é raro.
É muito maior do que se imagina o número de mulheres que fazem sexo com seus maridos sem nenhuma vontade, por obrigação. E sempre foi assim. Durante muito tempo, o casamento visou apenas à união econômica e política das famílias, nunca tendo sido considerado lugar de amor. Acreditava-se que era algo muito sério para se misturar a emoções tão fugazes.
Por isso,mesmo que se desejassem, marido e mulher eram proibidos de se lançarem um ao outro com ardor. No século 12 havia o consenso de que entre o casal poderia
haver estima, mas nunca amor, porque o amor sensual, o desejo, o impulso do corpo
seria a perturbação, a desordem. Contudo, as mulheres não podiam se esquivar do
dever conjugal e deveriam, portanto, se dobrar às exigências do marido.
 
Exatamente como, 800 anos depois, muitas continuam fazendo. Na primeira metade
do século 20, casar significava formar um lar e se situar socialmente dentro da
coletividade. Ainda em 1930, na hora de decidir um casamento, a profissão, a
situação econômica e as qualidades morais eram mais importantes do que os interesses
afetivos. As pessoas se casavam para ter o apoio de uma família, aumentar o patrimônio
e deixar a herança para os filhos. Como os valores familiares eram centrais nessa época,
os indivíduos eram julgados em função do êxito de sua família e do papel que desempenhavam nesse êxito. Até a década de 1940, a importância da atração sexual entre o casal se colocava depois de vários outros aspectos como a fidelidade, as qualidades de caráter, e principalmente da divisão das tarefas e preocupações.
As mudanças começaram a ocorrer mais claramente em meados do século passado. A valorização do amor conjugal sob todos os pontos de vista, sobretudo o sexual, começa a se manifestar. Portanto, a ausência de desejo no casamento só passou a ser problema — o maior enfrentado pelos casais — quando, recentemente, o amor e o prazer sexual se tornaram primordiais na vida a dois e se criaram expectativas em relação a isso.
Jornais, revistas e programas de TV fazem matérias, tentando encontrar uma saída para essa questão.  Alguns dizem que para solucionar o problema é necessário quebrar a rotina e ser criativo, o que não passa de um equívoco. É o desejo sexual intenso que leva à criatividade, e não o contrário. É importante também saber que a falta de desejo sexual no casamento nada tem a ver com falta de amor. Ficamos surpresos quando tomamos conhecimento de que aquele casal amigo, com tantas manifestações de carinho entre si, tem uma vida sexual limitada. E não é rara a escassez de sexo progredir até a ausência total. Em muitos casos as pessoas se amam profundamente, não conseguem imaginar viver sem o outro, apenas não sentem mais vontade de fazer sexo com o parceiro. Na medida em que vai aumentando o carinho, a solidariedade, o companheirismo, o desejo sexual vai diminuindo e o amor assexuado vai tomando conta da relação. O mais comum é que o desejo da mulher deixe de existir primeiro. Dor de cabeça, cansaço, preocupação com trabalho ou família são as desculpas mais usadas. As mulheres tentam tudo para postergar a obrigação que se impõem para manter o casamento. Quando o marido se mostra impaciente, não tem jeito, a mulher se submete ao “sacrifício”. Há algumas décadas, o filósofo inglês Bertrand Russell afirmou que “o casamento é para as mulheres a forma mais comum de se manterem, e a quantidade de relações sexuais indesejadas que elas têm que suportar é provavelmente maior no casamento do que na prostituição.”
Entretanto, como hoje muitas mulheres que podem se sustentar sozinhas também se
submetem a essa situação, constatamos que a dependência emocional acaba sendo
tão limitadora quanto a financeira. Ambas podem conduzir a uma vida sexual pobre, mas se imaginar sozinha, desprotegida, sem um homem ao lado, é considerado insuportável. O homem, como foi educado a fazer sexo de qualquer jeito, a não recusar nenhuma mulher, e também por se excitar muito mais rápido do que a parceira, não tem dificuldade, mesmo se houver pouco desejo. Mas por que o desejo acaba no casamento? Mesmo que os dois se amem, a rotina, a excessiva intimidade e a falta de mistério acabam com qualquer emoção. Numa relação estável busca-se muito mais segurança que prazer. Para se sentirem seguras, as pessoas exigem fidelidade, o que sem dúvida é limitador e também responsável pela falta de desejo. A certeza de posse e exclusividade leva ao desinteresse, por eliminar a sedução e a conquista. Não é necessário dizer que existem exceções, e que em alguns casais o desejo sexual continua existindo após vários anos de convívio. Mas não podemos tomar a minoria como padrão. Na grande maioria dos casos não se trata de problema pessoal ou daquela relação específica, e sim fato inerente a qualquer relação prolongada, em que a exclusividade sexual é exigida. Essa informação pode evitar acusações mútuas, em que se busca um culpado pelo fim do desejo. O preço é a decepção de ver se dissipar o ideal do par amoroso. No entanto, a partir daí fica mais fácil cada um decidir o que fazer da vida. As soluções são variadas, mas até as pessoas decidirem se separar, há muito sofrimento. Alguns fazem sexo sem vontade, só para manter a relação. Outros optam por continuar juntos, vivendo como irmãos, como se sexo não existisse.
E ainda existem aqueles que passam anos se torturando por não aceitar se separar
nem viver sem sexo.
Regina Navarro lins
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