7 de agosto de 2011

Falsos sofrimentos sexuais

De nada adiantou o austríaco Leopold von Sacher-Masoch ficar indignado. Não teve jeito: de famoso escritor e amante inventivo, foi mesmo rebaixado ao nível de patologia sexual. No livro Vênus das Peles, seu maior sucesso, ele descreve sua fantasia de ser dominado e chicoteado por uma mulher vestida apenas com um casaco de pele. No final do século 19 esses atos foram classificados como perversão da vida sexual e denominados masoquismo. As práticas sexuais usadas por aqueles que sentem prazer em dominar, ou em infligir ao outro dor física ou emocional, receberam o nome de sadismo devido aos romances do Marquês de Sade, escritos um século antes.
Mas nem todo sadismo e masoquismo buscam sofrimento. A base do sadomasoquismo é o antagonismo entre domínio e submissão. É uma prática sexual tão comum que o psicanalista inglês Anthony Storr pergunta se haverá por acaso algum casal de amantes que não tenha brincado de alguma versão do velho jogo em que um domina e o outro é subjugado, ou que não tenha atormentado um ao outro de brincadeira, fingindo dar um beijo e recuando?
Em 1954, o pesquisador americano Alfred Kinsey já havia registrado que mais da metade dos homens e mulheres reagiam eroticamente a mordidas. Nesse tipo de sadomasoquismo há um consenso e uma negociação entre as partes, de forma que um dos parceiros pode interromper o jogo a qualquer momento.
Apesar de o masoquismo ser mais associado às mulheres, devido ao treinamento de submissão e passividade que sempre receberam, vários estudos mostram a inversão dos papéis sociais no sexo. Os prazeres masoquistas fazem parte das fantasias de homens e mulheres em proporções praticamente iguais, principalmente ser amarrado e subjugado durante as atividades sexuais. E uma pesquisa concluiu que ambos os sexos preferem que o outro seja o sádico.

Na verdade, não há um consenso geral a respeito das causas do sadomasoquismo. Que dor e prazer são sensações intensas e às vezes a fronteira entre os dois não é marcada com nitidez, todo mundo sabe. Alguns, como a historiadora americana Riane Eisler, acreditam que, como a erotização da violência e da dominação foi central na construção social do sexo, a maioria de nós se excita, em graus variados, com essas fantasias. Para outros essa prática sexual reedita sensações de prazer e poder relacionadas com conflitos do início da vida. Há ainda os que defendem a idéia de que, se dessa forma o prazer aumenta e não faz mal a ninguém, não é necessário explicações e deve-se aceitar com naturalidade.

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