21 de março de 2011

Sexo sem medo ou culpa

Regina Navarro Lins fala sobre a relação das mulheres com o sexo sem amor

Sandra, uma engenheira de 31 anos, chegou deprimida à sessão de terapia. Há muito tempo busca conhecer um homem com quem pudesse desenvolver uma relação estável e duradoura. O motivo da sua depressão foi mais uma frustração amorosa. “Semana passada fui a uma festa na casa de uma amiga. Lá conheci Paulo, amigo do marido dela. Ficamos juntos a noite toda. Houve abraços e beijos, mas eu me propus a resistir...só que não deu: dormimos num motel. Como ele não me ligou no sábado nem no domingo, fiquei arrasada. Eu tinha jurado pra mim mesma que não ia mais transar sem amor....depois fica esse horrível sentimento de vazio!”

Muitas mulheres, apesar das evidências em contrário, ainda se esforçam para se convencer de que sexo e amor têm que caminhar sempre juntos. Os homens nunca pensaram assim e jamais isso foi cobrado deles. Quando uma mulher diz que não consegue transar com um homem se não houver amor entre eles, na maioria das vezes ela está apenas repetindo o que lhe ensinaram, impossibilitada de perceber os seus próprios desejos. Não há motivo para o sexo não ser ótimo quando praticado por duas pessoas que sentem atração e desejo uma pela outra. No caso de Sandra a frustração e o vazio têm muito mais a ver com uma expectativa não satisfeita do que com o sexo em si. A questão é que, como o sexo não é visto como natural, costuma-se misturar as coisas e se busca algo mais do que prazer: continuidade da relação, namoro ou casamento. Mas isso não é à toa.

Desde que o homem descobriu que participa da procriação, mantém sob controle a sexualidade da mulher. E isso aconteceu há cinco mil anos, quando ele ficou obcecado pela certeza da paternidade, para só deixar a herança para os filhos legítimos. No século XIX chegou-se a criar teorias para sustentar que a mulher não gostava de sexo, que seu único prazer era satisfazer o marido e cuidar dos filhos. É claro que, da década de 1960 para cá, com todo o movimento de liberação sexual, essas idéias caíram por terra. Hoje, todos sabem que homens e mulheres têm a mesma necessidade de sexo, e que a mulher pode ter tanto prazer quanto seu parceiro. Contudo, curiosamente, a maioria das pessoas finge não saber.

Se uma mulher foge ao padrão de comportamento tradicional, ou seja, não esconde que gosta de sexo, é inacreditável, mas ainda corre o risco de ser chamada de “fácil”. As próprias mulheres participam desse coro, ajudando a recriminar as outras, que conseguiram romper a barreira da repressão e exercem livremente sua sexualidade. Não é nenhuma novidade, mais uma vez os próprios oprimidos lutando para manter a opressão. Entretanto, para o homem, fazer sexo com uma mulher no mesmo dia em que a conhece é considerado natural, ele até se valoriza por isso. Há os que se dizem liberais, sem preconceitos, nada moralistas. Será? Para se ter certeza, é só perguntar o que eles acham da mulher que transa no primeiro encontro.

O sexo, quando vivido sem medo ou culpa, pode levar a uma comunicação profunda entre as pessoas. A maioria das mulheres se recusa a fazer sexo no primeiro encontro, mas não por falta de desejo. É a submissão ao homem, ou seja, a crença de que tem que corresponder à expectativa dele. A partir daí inicia-se uma encenação, onde o script é sempre o mesmo: o homem pode fazer sexo, a mulher não. Ele insiste, ela recusa.

O desejo que os dois sentem é igual, mas ele continua insistindo e ela continua dizendo não. Ela acredita que, se ceder, ele vai desvalorizá-la e não vai se dispor a dar uma continuidade à relação. Vai sumir logo depois do orgasmo. E o pior é que há os que somem mesmo. A luta interna entre os antigos e os novos valores não está concluída. Alguns se sentem obrigados a depreciar a mulher, que sentiu tanto desejo quanto eles, e não fingiu. “Ora, ela deveria saber resistir mais bravamente”, pensam. Submissos ao modelo imposto, funcionam como robôs aceitando que valores equivocados determinem com que mulheres devem namorar ou casar.

Afinal, em que encontro a mulher pode fazer sexo com um homem? No segundo, terceiro, sexto? Qual? O grau de intimidade que você sente na relação com uma pessoa não depende do tempo que você a conhece. Além disso, o prazer sexual também independe do amor ou do conhecimento profundo de alguém. Para um sexo ser ótimo basta haver muito desejo e vontade de obter e dar prazer. E uma camisinha no bolso, claro.

Estamos vivendo um momento de transição, em que os antigos padrões de comportamento estão sendo questionados, mas novas formas de pensar e viver ainda causam medo pelo desconhecido. Há os que sofrem por se sentir impotentes para fazer escolhas livres, mas acredito que o fim de muitos tabus a respeito do sexo seja só uma questão de tempo.

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